Não eram iguais e nunca seriam se não fosse o destino. É ele que lhe coloca sentada ao lado de um desconhecido em uma sala de aula lotada, não é?
A ligação ocorreu antes que se desse conta. Antes de perceber que o amava, já amava com todo o seu ser e alma, o coração já era dele sem que lhe tivessem tirado do peito.
E depois, entre matemática e história, entre férias e a monotonia das aulas, entre certezas e esperanças, já com o coração nas mãos dele, foi que a amizade começou. Tão cuidadosa em não deixar que lhe ferissem, se colocou inteiramente a disposição do agora amigo, como ele também se entendeu como banquete em mesa requintada para ela, apesar de tantos espinhos.
E vieram as igualdades, os pensamentos em comum construídos por areia que não se sabe como, se tornaram inquebráveis como diamantes, e se já lhe dera o coração, agora dava os ombros quando ele precisava, as mãos quando a travessia era difícil, as pernas quando as dele não agüentavam a estrada.
E recebia tudo de volta, de mansinho, quase imperceptível, porque demorou pra ela perceber que a indiferença na verdade era medo, e que tudo que ele lhe dava, era tudo que tinha, e era suficiente. Nada vinha enfeitado com fitas ou miçangas, era somente verdade, pele, ossos e músculos em suas mãos. Nada era colocado em papel de presente, e mesmo assim vinha com surpresa, com sorriso, provocava tanta alegria...