quarta-feira, junho 11

Eu quebrei meu coração no dia 25 de outubro de 2002. Quando me lembro sempre é como se tivesse sido apenas dois minutos atrás.

Eu sentada num banco tosco de madeira no fundo de casa retorcendo a musculatura dua e os nervos grossos enquanto o sangue escuro escorria invisível por minhas mãos de menina.

Um coração desfigurado não tem conserto, por força somente biológica ele continua a fazer o que lhe convém, bate e bate muito forte dentro de mim. Desde que o quebrei ele nunca mais bateu direito...

Existia uma pequena noção do que era sofrimento antes dessa minha mutilação, a mesma noção que tem um peixe de voar. Nada se compara a dor fria e metálica que é a dor do amor.

Amar dói, e mesmo um coração quebrado ainda sabe amar. Ama torto, desacreditado, doente, mas ama. E sabe doer.

Toda pessoa, todo livro, toda música. Tudo que eu vi e passei nos últimos doze anos me machucou. Sempre fui fechada e me tornei mais ainda, mesmo que aberta ao riso e aos novos amigos. Descobri que um coração partido amolece a alma e a minha se conturbou e se tornou água turva acompanhada de uma agulha arranhando um disco que não toca nada.

Fico surpresa quando aparece alguma coisa que eu gosto e quando eu gosto gosto tanto...

Sorvete.

Madrugada.

Abraço.

Bacon.

Minhas mirradas alegrias que me fazem sobreviver...

Minha mãe.

Minha irmã.

Minha vó.

Sou tão agradecida por todas as pessoas que me aceitam de coração quebrado.

Barulho.

Eu tenho necessidade do barulho mais silencioso que são as palavras. Meu alimento, minha continuação.

Eu nunca vou dar silêncio. quando eu morrer me tapem a boca pra talvez, em outra vida, ter essa virtude.

Silêncio nesta vida, Deus, é covardia - grito dos meus pulmões silenciosos. Covardia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário