domingo, abril 9



Ela estava angustiada. Torcia  as mãos sem achar lugar para elas no próprio corpo e no espaço.

- Vou fazer um bolo! - levantou-se da cama com um pulo - quando eu fico assim preciso fazer alguma coisa. Vou fazer um bolo.

Colocou-se em marcha para a cozinha e eu fiquei sorrindo um riso leve, daqueles sem compromissos com nada para a parede.

Eu queria fazer um bolo bem enfeitado quando tivesse um angústia das bravas. Daqueles bonitos, com chantily e florzinhas de creme que a gente fica com vontade de enfiar o dedo. Mas eu não tenho bolos, só as angústias matraqueando na boca do estômago e tentando apertar o coração.

Eu queria ouvir uma música alegre quando tivesse uma angústia das bravas. Daquelas de sair rodopiando em volta da gente mesmo até sentir o pé doer e o ar faltar. Mas o ar me falta pelos desesperos, pelos músculos do peito que doem e queimam, pela ansiedade que vai saltar da boca a qualquer momento.

Eu queria poder escrever um poema de amor, com versos de rimas cantadas que acalentassem um coração apaixonado e fizesse suspirar o coração triste. Mas as palavras belas me faltam e só me vem estas que agora escrevo, as companheiras do sobe e desce do humor de todos os dias, as que eu amo, as que eu tenho.

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