Bila estava assustada. Os olhinhos escuros brilhavam de medo
enquanto encolhia seu corpinho mais e mais dentro da manta que usava.
A velha olhava para ela enquanto inspirava através do
cachimbo velho, o fumo fedido que fazia o nariz de Bila arder.
Era uma velha muito velha, quase não tinha cabelos e suas
mãos eram crespas e com veias saltadas. Bila não sabia que alguém podia ficar
tão velha e tinha medo
daquela, um medo que quase lhe tirava o ar enquanto o coraçãozinho
explodia dentro do corpo pequenino.
Sua mãe estava do lado da velha, parecia ansiosa mordendo os
lábios enquanto os olhos corriam de Bila para a velha e de volta para Bila.
Quando ela terminou de fumar, começou a mascar ervas que
Bila não conhecia, mas o cheiro era doce e bom. Ela mascou e depois cuspiu numa
cuia onde jogou o resto do fumo e socou junto com o emplastro que havia sido
formado.
A velha aproximou-se de Bila. Bila que queria sumir dentro
das próprias roupas, tão encolhida contra o próprio corpo que não passava de
uma pequena figura. Bila viu que faltavam dentes na boca quase negra da velha,
e uma das mãos ásperas segurou-a pelo queixo. Bila quis chorar, as lágrimas
começaram a descer pelas bochechinhas rosadas e então a velha havia se
distanciado de novo.
Bila estava com medo.
Bila tinha pavor.
Bila sentia o sangue correr frio.
Bila queria correr.
A mãe puxou a pequena paras os braços longos em um abraço
apertado, enquanto sussurrava algo que Bila não entendeu. “Mamãe? Mamãe?” Ela chamava em vão, enquanto o sussurro deu
lugar aos soluços de choro. Bila sentiu o medo descer com uma navalha por suas
costas.
A velha se aproximou de novo, olhou atentamente nos olhinhos
assustados de Bila e lhe concedeu um sorriso desdentado.
Passou o emplastro na testa da menina que soltou um grito,
mas ninguém pareceu se importar.
A velha havia tirado uma adaga velha e curva, muito muito
mal feita de dentro das vestes. Bila voltou a gritar pela mãe que soluçava e
soluçava cada vez mais alto.
Então se encararam. Os olhos dela eram esbranquiçados
enquanto os de Bila eram de um escuro perfeito, cheio de brilho. Outro sorriso
desdentado.
-Você é especial, menina. Não tenha medo. Você é especial
Então Bila sentiu a adaga entrar por sua pele, pela carne,
fria como uma manhã de inverno e então o corpo todo explodiu de dor. Ela quis
gritar mas antes que chegasse à garganta o grito, Bila pendeu nos braços da
mãe. Bila sem vida. Os olhinhos pretos vazios de brilho pareciam ainda encarar
a velha.
-Ela é especial, moça. Precisava ser assim.
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