sábado, outubro 13

Então...

 Então você não voltou pra buscar suas coisas. Confesso que esperei mais do que você teria imaginado, olhando timidamente através das cortinas se você por acaso virasse a esquina, se por acaso parasse no portão mal pintado, se eu ouvisse o trinco girando. Eu havia me preparado, num ritual diário de colocar aquele meu vestido rosa que você tanto odiava, gotinhas de alfazema atrás das orelhas e sandálias de tiras nos pés. Mas você não veio, então no meu armário ainda ficaram suas camisetas de golas puídas, aquela bermuda com a estampa mais horrorosa que poderia ter encontrado naquela lojinha perto do mar, o livro ainda marcado na página que você parou de ler. Como conseguiu deixar uma história inacabada para trás? Logo você?

Joguei a escova de dentes fora e também aquele frasco de desodorante quase no fim. Resolvi recomeçar com uma faxina, aquela correntinha que te dei, aquela que você só usou uma vez estava debaixo do sofá, você não perdeu na casa do Pedro afinal. Também achei algumas notas de cinquenta guardadas para algum propósito dentro de um maço de cigarros. Queimei todas enquanto dançava ao som de “What about love?”. Não poderia ser mais apropriado, não é?

Então para deixar tudo certo, tudo organizado como você sempre me cobrou, separei tudo dentro de um saco de lixo: seus livros, o ipod, as camisetas velhas, as cinzas do dinheiro e até aquele pacote de macarrão que você prometeu fazer pra gente. Está tudo na porta. É isso. Se não vier buscar, o caminhão de lixo passa na quinta. 

É isso.

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