Você não sabe quão imenso foi o abismo que construí entre
nós na vã tentativa de me libertar. Mas pulei. Pularia de novo. E de novo.
Sabendo que você estaria em algum momento na queda desvairada, nos entrelaçando
pelo espaço do nada e pelas promessas que se quebrariam no chão.
Pra nós, a falta de gravidade.
Poderíamos meu bem, flutuar por nossas vidas exalando
falsas esperanças cheirando a flores mortas, causando inveja nos amantes que
desconhecem o desvario da loucura que é minha paixão, presos na tranquilidade do
colo sereno do outro...
Pra você eu mostro de novo meus dentes, minhas garras,
transformo-me em fera, abro-me em flor. Sou um corpo seu, sua uma alma sua. Sou
vendida. O diabo não faz devoluções.
Ah meu amor como seria lindo o dia em que os pés enroscados
permanecessem juntos, e que levasse meus dedos à boca, aos beijos, às juras. E
te amaria hoje, e te amaria hoje, e hoje e hoje e hoje. Ao acordar do
desespero, dos gritos das baladas tirando-me do sonho, ao lado uma fera, não um
príncipe, ao lado um monstro com meu coração no peito.
Eu fujo, eu me rasgo, eu sangro, choro, me doo, me perco.
Eu volto. Eu pulo, mas dessa vez a queda é rápida. Tão raso, tão áspero, tão
verdadeiro e perto.
Então há medo, há amor, há insegurança batendo asas,
anuviando meus olhos, enfeitiçando meus sentidos, e eu sempre sou sua, e o
espelho me mostra o resto do que já fui e o que agora desconheço.
Eu mudei pra você? Eu mudei por você?
Existe a acidez de uma semente oca que eu queria fazer
brotar. Eu amo uma ideia, a família, você me amando. Nos amando. Mas nos jogamos na esterilidade das pedras
atiradas aos arremessos contra a face, contra o corpo, contra o outro. Então eu
te machuco, então eu assopro, eu preparo curativo. Acalento.
Quando nós caímos o céu era tão bonito... o suspiro tão
profundo, a paixão tão acalentadora.... Eu quero você, eu quero o que acho que
quero de você.
Você existe? Existe?
Vejo uma sombra correndo, ela se vira e se vai. Sem
resposta.
Só. Dentro. De. Mim.

Lindo,lindo ,Mary!
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