Queria te contar de um livro que li, sobre uma passagem em que o narrador vai visitar a sepultura de um parente querido no Japão, e como ele conta ser um costume se desculpar, diante da sepultura, pelo tempo que se ficou sem ir até la.
Sabia que nunca passou pela minha cabeça de pedir desculpas por não ter ido te visitar? Por não saber como anda a sua, se alguém está colocando flores, sempre achei uma das coisas mais tristes aquelas sepulturas esquecidas com suas flores mortas atestando o descaso.
Você me desculpa? Por não deixar a pedra brilhando, por não colori-la com todas as cores das flores, por não saber se tem poeira acumulada naquela foto pequenina que retrata você? Você me desculpa? Por que eu não me desculpo, pai.
Nós conversamos todos os dias, ninguém me conhece mais que você, mas eu nunca vou saber se ficou triste por eu não ter ido lá todos esses dias, meses, anos... Eu sei que você já deve ter me desculpado, talvez você até não tenha se importado, você pode dizer que a gente já conversa todos os dias e isso é o que importa, mas mesmo que você diga eu não vou ouvir.
Então me sobrou só essa culpa, só essa vergonha doída no fundo do peito, de imaginar alguém passando por você e vendo mais um esquecido, como eu via os túmulos de flores secas.
Desculpa, Desculpa, desculpa.
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