Acho que nunca se escreveu tanto como na atualidade, dos anos 2000 - 2015 (será que esse texto vai ficar perdido vagando pelo universo internético e um dia ser lido no futuro? Enfim, minha atualidade é essa aí), mas por outro lado nunca se soube tão pouco. Veja só, nós temos o mundo a poucos cliques de distância, sério, ele tá ali, lugares, pessoas, conceitos, culturas, pesquisando bem se acha, constrói-se, aumenta-se os horizontes que temos como pessoas, mas na maioria das vezes, na maçante maioria das vezes, isso não acontece, é o paradoxo definidor de nosso tempo: quanto mais informação se tem, e acesso à elas, de inúmeros pontos de vista, mais o ser humano se limita, mesmo! Não sei bem quando isso começou, mas em algum momento a velocidade com que as informações chegam se misturou com a velocidade de raciocinar! Refletir então, palavra quase em desuso.
Nós passamos pelas notícias, passeamos por uma mar de vitrines e produtos, engolimos conceitos sem mastigar, tudo automático, robótico que transforma as pessoas em uma massa que desistiu de usar as sinapses para aquela atividade fundamental que nos difere do resto de todos os outros animais: a de ter consciência, de decidir o que se quer ser, se vai ou se fica, se 2+2 ou ler Machado. Os pensamentos da massa têm a mesma intensidade e velocidade de um dado jogado na rede, se você piscar perde de vista.
O que passamos a enxergar é uma repetição, um padrão de comportamento que não mais vive, se apressa, não reflete, opina sem ao menos saber sobre o que anda falando, e que parece ter esquecido de argumentar. É que o tempo virtual também transformou a todos em trolls monumentais, gigantescos monstros saídos dos mais terríveis contos de fadas protegidos pela capa de invisibilidade que a tecnologia proporciona. É uma guerra diária de violência verbal, mesmo que mal conjugada, de trogloditas destemidos e ferozes disseminando ódio através de ideias que nem deles são, baseadas em ideais antigos que mesmo em desconformidade com a sociedade em que vivemos, um dia teve uma base teórica sólida da qual os monstros digitais aproveitam a poeira, porque na velocidade da vida não se tem tempo de ler, só de passar os olhos e ligar a metralhadora: PÁ viado, PÁ abortista PÁ puta, PÁ socialista, PÁ corrupto, PÁ crente sem vergonha, PÁ favelado, PÁ preta vadia e tantos outros tiros.
Se houvesse um blackout mundial, se todas as redes saíssem do ar, o que você teria pra contar depois de passado o pânico inicial? Quantos livros teria lido? Quanto teria produzido de bom? Quantos amigos reais teria? Pergunto-me muito sobre a possibilidade, a estranha possibilidade, de um dia sermos obrigados a ter contato direto uns com os outros de novo, sem uma tela nos separando. Um dia eu sonhei que isso acontecia, mas eu havia esquecido como falar. Foi amedrontador, e a sensação ruim não passou depois de acordar e perceber que no andar veloz que o tempo vai, um pesadelo ruim pode vir a ser realidade.
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