- Há um tornado vindo aí.
Havia riso na voz de Joe, o pavor
estava concentrado todo dentro dos olhos amarelados pela doença. Olhava para o
céu como se o dito tornado fosse se formar em cima da sua cabeça.
Mary não conseguia mais olhar o
céu. Da última vez que olhara estava roxo e lívido de fúria. As grandes e
gordas nuvens cor de chumbo agitavam-se numa dança mortal que parecia não
querer deixar sobreviventes. Fazia cinco
minutos que ela havia tapado os olhos azuis com as mãos sujas de terra enquanto
o vento assobiava em seus ouvidos, uivando a dor que a terra sentiria.
- Hey, pequena, levanta! Abre
esses olhinhos abre, a gente precisa sair daqui. Abre.
As mãos de Joe seguravam as suas
próprias, mãos ásperas e grandes que primeiro foram suaves e depois mostraram
sua força. Ele a machucava enquanto os dois lutavam na escuridão dos olhos
dela, fechados, cerrados, medrosos. Ele havia conseguido lhe tirar as mãos do
rosto, mas não a faria enxergar.
- Levanta, menina, levanta. E
olha pra mim, olha pra mim, Mary! Não olha o céu, olha pra mim.
Ele a sacudia enquanto falava, as
mãos se apertando em volta dos braços finos e criando marcas que demorariam a
sair. Mary sentia as lágrimas quentes começarem a descer pelo rosto, foi quando
Joe a abraçou com a mesma força que a balançava e de repente a dor era menor
que o sofrimento.
- Olha pra mim, Mary, olha pra
mim por favor. A gente precisa sair daqui, entende? Precisa.
Então ela olhou e no lugar do céu
perturbador havia apenas o rosto velho e cansado de Joe. Haviam as rugas e
barba acinzentada, a cicatriz que cortava a sobrancelha esquerda e a boca fina.
E havia os olhos amarelos pela doença tão cheios de lágrimas quanto os seus
pequeninos azuis.
Levantaram-se os dois do lamaçal
que se transformava o jardim dos fundos do casebre velho. Levantaram e correram
contra o vento, contra a morte. E contra o medo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário